HISTÓRIA - VOLKSWAGEN GOL 30 ANOS

Texto: Gustavo do Carmo
Foto: Divulgação


O Gol foi lançado em maio de 1980 com a missão de suceder o Fusca no Brasil, na época, com 20 anos de estrada. O nome foi ideia do jornalista da revista Quatro Rodas, Nehemias Vassão, que queria associar o nome ao momento máximo do esporte mais popular do nosso país: o futebol. Outro argumento foi a aproximação esportiva com os outros carros da Volkswagen na Alemanha: o Golf e o Polo. As primeiras versões de acabamento foram a básica (sem nome) e a L.

O projeto começou em 1976, um ano depois do lançamento do Polo na Europa. Este foi importado pelo departamento de engenharia da montadora para estudos. Com o tempo foram surgindo esboços e protótipos até chegar o modelo definitivo, inspirado no também europeu Scirocco.


Só que quem esperava um motor moderno e refrigerado a água, já usado há seis anos no Passat, se decepcionou. O escolhido foi o mesmo 1.3 refrigerado a ar do Fusca, movido a gasolina, que tinha pouca potência (42 cv) e não andava quase nada (velocidade máxima na faixa dos 125 km/h). Pelo menos foi instalado na frente, mas numa posição longitudinal que seria usada por muitos anos. Poderia ter sido pior e entrado na traseira do carro.

Por dentro, o painel era bem "ergonômico" com o rádio colocado quase no lugar do porta-luvas. O espaço era razoável, melhor que o do Chevrolet Chevette. Uma solução que, a princípio, aliviou um precioso espaço no porta-malas foi a colocação do estepe no compartimento do motor. Porém, quando surgiu o modelo a álcool, no início de 81, com filtro de ar e dupla carburação, o estepe foi para o bagageiro. No entanto, a ideia de um mecânico de concessionária de colocar o pneu com a roda para cima fez voltar o estepe para o capô no novo modelo 1.6 lançado em março.

Ainda com o 1.3 a álcool, o Gol só chegava a 128 km/h. Já com o 1.6 os números subiram para 51 cv e 143 km/h. Por pouco, o Gol não saiu de linha no lugar da Brasília, em 1982. Além da perua, o hatch enfrentava a concorrência do Fusca dentro da própria Volkswagen. Para o motor 1.6, o modelo ganhou as versões de acabamento S e LS.

Entre 1981 e 82 apareceram os seus derivados: Voyage (1981), Parati (meados de 1982) e Saveiro (outubro de 82). O sedan e a perua chegaram com uma frente mais moderna (piscas verticais junto aos faróis maiores) e o motor arrefecido a água que o Gol deveria ter usado desde a estreia: o propulsor 1.5 com carburação simples rendia 65 cavalos. A picape foi lançada com o mesmo motor a ar e frente do hatch. A primeira série especial do Gol foi a Copa, lançada para celebrar o mundial da Espanha e que seria reeditada em 1994 e 2006.

Em 1984 o Gol ganhou finalmente o seu motor refrigerado a água, que estreou numa versão esportiva, a GT 1.8. O bloco AP1800 era o mesmo que seria usado em alguns meses no luxuoso Santana. Rendia 99 cavalos de potência. O estepe ficou definitivamente no porta-malas. A frente copiou os irmãos mais sofisticados da família BX, mas na cor do carro. Rodas de alumínio, aerofólio e adesivo no vidro traseiro completavam a aparência externa. Por dentro, bancos esportivos da marca alemã Recaro.

O Gol mais comportado esperou um ano para ganhar o motor a água e a frente definitivamente igual aos irmãos. E a cilindrada era 1.6, já usada no Passat, Voyage e Parati desde 1983. A potência subiu para 81 cavalos. O motor a ar continuou em produção no Gol, numa versão popular chamada BX.

Em 1987, surgia a Autolatina, união entre Volks e Ford. O Fusca já tinha saído de linha havia um ano e, pela primeira vez, o Gol assumiu a liderança do mercado, que não largou até hoje. O Voyage e a Parati começaram a ser exportados para os Estados Unidos com o nome de Fox/Fox Wagon e nova frente, traseira e painel.

O Voyage só partia com quatro portas e foi o único da primeira geração do Gol que teve esta versão, que foi vendida no mercado interno entre 1983 e 1986, mas saiu de cena por causa do preconceito do brasileiro contra as portas extras, porque achava que era de taxista. Continuou sendo fabricado para a América do Norte e outros países sul-americanos. Voltou a ser vendido em 1990 como opcional e, no fim da vida, entre 1994 e 1996, passou a vir da Argentina somente nesta configuração.

A remodelação externa do Voyage de exportação para os Estados Unidos chegou ao mercado brasileiro e também ao Gol, mas teve algumas modificações. Os faróis fundos do modelo "norte-americano" foram alinhados com a grade. Comparado à frente antiga, o conjunto ótico diminuiu de tamanho, as lentes das luzes de direção ficaram mais envolventes e os para-choques foram estendidos até o chão. As lanternas do Gol ficaram maiores. A linha também ganhou nova grafia na identificação externa. O painel novo ficou para o ano seguinte. As nomenclaturas BX, S e LS do hatch foram trocadas por C, CL e GL.

A versão esportiva GT do Gol dava lugar à GTS. Voyage e Parati tinham a luxuosa GLS. A partir de 1988, esses três e mais a versão GL (Saveiro incluída) usavam painel interno diferenciado, mais arrojado. O GTS e os GLS tinham o motor AP1800 do Santana, que chegou para os GL de toda linha em 1990.

No final de 88, para começar a ser vendido no ano seguinte, era lançado o Gol GTi, o primeiro carro brasileiro com injeção eletrônica de combustível. Era um 2.0 com um bico injetor para cada cilindro, de forma analógia e rendia 112 cavalos. Com ele, o Gol chegou aos 200 km/h e acelerou em menos de 11 segundos. Se diferenciava visualmente do GTS pelo aerofólio traseiro mais alto na cor do carro, as lentes do pisca brancas e os para-choques e para-lamas prateados.

Em 1990, o AP1600 foi trocado pelo CHT da Ford, rebatizado de AE1600. Os fãs da Volkswagen detestaram a mudança. Para a linha 1991, nova remodelação estética: faróis trapezoidais e lentes dos piscas mais arredondadas e envolventes. O Voyage ganhava novas lanternas. A Parati trocava a depressão da tampa do porta-malas por um friso preto. A grafia da plaqueta de identificação foi mais uma vez mudada. Em 92, chegava o Gol 1000, com motor o motor da Ford reduzido, para enfrentar o Fiat Uno Mille, que quase tirou sua liderança do mercado. Em 1993, voltava o AP1600 e o para-choque dos dois lados passava a ser cinza.

No final de 1994, o Gol surgiu com um novo estilo de carroceria. As formas arredondadas lhe valeram o apelido de Gol "bolinha". Frente e traseira foram inspiradas na terceira geração do médio Golf, que acabara de chegar importado do México. Todos os motores (1.0, 1.6 e 1.8) ganharam injeção eletrônica, mas mantiveram a montagem longitudinal. O 1000 virou 1000i Plus. CL e GL acrescentaram um i na sigla. O GTS saiu de linha. Seu lugar foi ocupado pelo GTI (agora com i maiúsculo) porque o esportivo ganhou outra versão com motor 2.0 16v e 145 cv. Duas séries especiais inesquecíveis foram a Rolling Stones e a Atlanta. A primeira, de 1995, em homenagem a vinda da banda inglesa no Brasil. A segunda para celebrar as olimpíadas de 1996 na cidade norte-americana.


Ainda em 96, com o fim da Autolatina, o motor 1000 passou a ser fabricado pela própria Volkswagen e ganhou o nome de AT1000. Todos os motores também ganharam injeção eletrônica multipoint Mi. Parati e Saveiro também foram reestilizadas. A perua apareceu no final de 1995 apenas com duas portas. Também ganhou a sua versão GTI 16v e um motor 1.0 16v em 1997. A picape se atrasou, mas foi lançada com uma janela-espia para dar impressão de cabine estendida no final daquele mesmo ano. O Voyage morreu em 1996 para dar lugar ao Polo Classic, importado da Argentina. Em 1998, Gol e Parati ganhavam pela primeira vez em sua história uma versão de quatro portas. O hatch de quatro portas ganhou ainda a inédita versão GLS 2000i.


Mil, novecentos e noventa e nove marcou a entrada da Geração III do Gol e da Parati. Na verdade, uma remodelação estética da segunda geração. Faróis e grades entravam no padrão mundial VW da época, com de lentes mais transparentes. A traseira do Gol ficava mais lisa e arredondada. A Saveiro com nova frente só apareceu em 2000. Por dentro, o painel também mudou. E totalmente. O quadro de instrumentos ganhou iluminação azul. Mas a qualidade dos plásticos caiu. As siglas, com exceção da GTI 16v, deram lugar a pacotes de equipamentos como Sportline e Confortline. Em 2001 a antiga versão esportiva, descaracterizada pelas quatro portas e o desaparecimento da bolha no capô, também desapareceu. Tal como o primeiro Gol, que não saiu de linha quando apareceu a nova carroceria em 1994, a "Geração II" continuou sendo fabricada até 2005 com o nome de Special.

Em junho de 2000, para aproveitar a nossa confusa política tributária, foram lançados o Gol e Parati 1.0 16V Turbo. Na época os motores 1.0 pagavam menos imposto e a Volkswagen viu uma ótima oportunidade para oferecer um popular com alto desempenho. Tinha 112 cavalos de potência. Quando o Polo surgiu em 2002, o governo mudou as regras e reduziu o imposto dos modelos 1.6. O Gol Turbo foi sumindo aos poucos. A Parati durou um pouco mais.

O motor 1.0 ganhou comando roletado dos balancis e acelerador eletrônico que aumentaram a potência do oito válvulas para 65 cv e do 16v para 76cv. O motor 1.8 do Gol ganhou umas férias.

Para a linha 2003, o Gol e seus irmãos ganharam novos pára-choques e perderam uma aleta na grade. A Parati sofreu mudanças na traseira que a deixou parecida com as peruas do Golf e do Bora de 1999, desconhecidas do mercado brasileiro. O Special ganhava a companhia do City, com frente da Geração 3. Março daquele mesmo ano marcava mais um pioneirismo do Gol que passava a ser o primeiro carro movido a álcool e a gasolina. Era o início da era Flex. TOTALFLEX foi o nome escolhido pela Volkswagen.


No final de 2003 era lançado o Fox com apenas duas portas. A partir de então o Gol passou a competir no segmento de carros mais simples, voltados a frotistas e fiéis fãs do modelo. Voltou o motor 1.8, agora flexível. No início de 2005 o 1.0 também passou a ser flex. O 1.0 16v saiu de linha.

Em agosto de 2005, o Gol chegou à "quarta geração". Na verdade, foi a mesma estratégia usada pela Volkswagen no "Geração III". A dianteira adotou novos faróis, grade mais larga e pára-choques recortados em "V". A lanterna traseira ganhou novos elementos, como uma saliência circular que saltava aos olhos.
A empolgação foi tão grande que a montadora tirou de vez todas as versões anteriores, inclusive a Special e a City com frente de 1995 e 1999. Mas o Gol G4 foi projetado para ser mais simples que o Fox. Por isso, o painel ganhou o mesmo quadro de instrumentos do irmão mais novo. Já o acabamento empobreceu, com plástico rústico em excesso no painel e no revestimento das portas.

O motor 1.0 Flex ganhava três cavalos de potência, indo de 65 cv com gasolina para 68 cv e com álcool de 68 para 71 cv. No ano seguinte foi lançada a tradicional série especial "Copa", em alusão à Copa do Mundo na Alemanha. Tinha motor 1.6 Flex e grade e centro do pára-choque frontal pretos, acentuando o V da identidade da marca. Em 2007 surgiu a meio-off-road-light Rallye com suspensão elevada em 2,7 centímetros e centro superior do pára-choque prateado. Mesmo expediente foi usado nas versões Crossover, Track & Field e Surf da perua Parati. Nesta linha, a picape Saveiro já teve as versões Crossover, SuperSurf e também a Surf, além da Titan.



Em 2008, finalmente, o Gol foi totalmente reestilizado: mais arredondado, faróis espichados, grade de único filete, para-choque dianteiro contínuo, vinco percorrendo todas as portas e lanternas praticamente na lateral. A plataforma recondicionada de 1980 deu lugar ao novo conjunto PQ-24, usado no Polo e no Fox. Isso possibilitou a tão esperada posição transversal do motor, que ficou restrito ao 1.0 e 1.6 de oito válvulas, também alterados. O 1.0 passou a ter torque elevado (VHT), passando a render 72 cavalos com gasolina e 76 cv com álcool. Já o 1.6 trocou o antigo AP pelo moderno EA-111, também dos irmãos mais caros, rendendo 101 e 104 cv.

O acabamento interno melhorou, mas ainda ficou aquém dos outros modelos da marca. Pelo menos o quadro de instrumentos voltou a ter velocímetro e conta-giros separados, que agora cercam o display do configurador de funções e do computador de bordo. Airbags frontais e freios ABS voltaram para a lista de opcionais.


A nova geração do Gol trouxe de volta o sedã Voyage, no final de 2008. Desta vez, é a perua Parati que corre risco de extinção por causa da SpaceFox. Em 2009 foi lançada a nova Saveiro, agora com opção de cabine simples ou estendida, como a rival Fiat Strada, e desenho diferenciado, com caçamba inspirada na nova média Amarok e rodas escurecidas na esportiva Trooper.



Ainda no ano passado, Gol e Voyage ganharam a opção do câmbio automatizado i-Motion, que tem embreagem eletrônica e permite a mudança de marchas manual sequencial ou automática, com direito a indicação das marchas no painel. Este ano a Saveiro ganhou mais uma versão: a Cross. É ainda mais esportiva e trilheira, para concorrer com a Strada Adventure e a novíssima Peugeot Hoggar.


O Gol já está na linha 2011. Uma das versões é a série especial Seleção, que pode ter aposentado o nome Copa de 1982, 1994 e 2006, mas ganhou o direito de ostentar o distintivo da CBF nas portas dianteiras, na tampa do porta-malas e no encosto dos bancos, já que a Volkswagen patrocina a Confederação Brasileira de Futebol. Outro Gol 2011 é a Ecomotion, com econômetro no painel, ainda com a carroceria da Geração 4, que não só permaneceu em produção como tem outras duas versões: a básica e a rústica Titan.

Um carro que parecia que não ia pegar e quase teve o destino dos candidatos a suceder o Fusca como o Zé do Caixão, a Variant e a Brasília, o Gol amadureceu, alcançou a liderança do mercado ainda jovem e agora chega aos 30 anos, uma idade em que já pode ser chamado de senhor, pois a primeira geração ganhou o direito de ostentar a placa de licença preta, destinada a colecionadores que tenham o carro original mais original possível. Enquanto o modelo atual continua moderno e fiel às características de robustez e confiabilidade que fizeram do Gol um campeão não só nas vendas.


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